A moment at eighteen: uma questão de classe

A moment at eighteen, dorama disponível na Netflix, não me parece ser muito famoso na dramaland já que, até pouco tempo atrás, eu nunca tinha ouvido falar dele. Trata-se de um dorama juvenil, ambientado no ensino médio, cujos protagonistas são Soo-bin, uma jovem muito privilegiada e que sofre para atender as altas expectativas de sua mãe; e Jun-u, um jovem tido como “problemático”, que veio transferido de outra escola e esconde uma certa áurea de mistério em relação ao seu passado.

Para ser sincera, o que me interessou nesse dorama não foi exatamente a história de Soo-bin e Jun-u que, em certo momento da história, passam a desenvolver um romance. Embora haja aspectos interessantes de se analisar nessa relação, eu me ative muito mais aos elementos externos dessa relação do que no casal em si que, em última análise, achei bem sem graça. Ou talvez doramas adolescentes não sejam muito a minha praia, já que minha experiência com o c-drama A love so beautiful, que também retrata a rotina de estudantes no ensino médio, foi uma experiência bastante esquecível.

Mas como A moment at eighteen traz uma questão bastante evidente de classe social para sua história, achei que valia a pena um post passando por essa questão que, de fato, foi bem trabalhada no dorama, a despeito da falta de sal (de acordo com meu julgamento, óbvio) de Jun-u e Soo-bin.

Para mim, a questão das classes sociais é o elemento que mais se sobressai nesse dorama e ele aparece em vários núcleos. Sendo uma sociedade extremamente socialmente estratificada como a Coreia do Sul, acho que o dorama representou muito bem como as desigualdades e diferenças sociais entram nos muros da escola e impactam diretamente a relação entre os estudantes e suas perspectivas e expectativas em relação ao futuro.

A disparidade social e econômica já pode ser vista nos protagonistas do dorama. De um lado, temos Soo-bin, uma jovem que vem de uma família abastada, o que se reflete em toda a sua vida: ela vai para a escola em um carro dirigido pela sua mãe, uma business woman bem-sucedida e ex-estudante da prestigiada Universidade Nacional de Seul; ela mora em uma casa grande, confortável e moderna; ela tem a oportunidade de frequentar um curso extracurricular para melhorar suas habilidades em matemática, graças aos contatos de sua mãe. Em resumo: Soo-bin pode dedicar 100% do seu tempo e da sua atenção aos estudos e a se preparar para ingressar em uma excelente universidade assim que terminar o ensino médio. Isso não faz de Soo-bin uma pessoa mesquinha ou que se ache superior, muito pelo contrário. Mas é preciso pontuar todos os inúmeros privilégios de Soo-bin em uma sociedade tão competitiva e desigual.

Por outro lado temos Jun-u, que vive uma realidade financeira muito diferente de Soo-bin. Com sua mãe trabalhando no interior em um restaurante, Jun-u precisa se virar sozinho, o que também inclui trabalhar no contraturno escolar em uma loja de conveniência. Mais próximo do fim do dorama, vemos Jun-u se desdobrando entre ir para a escola, dar conta das provas, fazer um cursos específico de desenho, se dedicar para ganhar um prêmio e trabalhar na loja. Embora possua um talento extraordinário para as artes, e até mesmo encontre em um professor um aliado que reconhece esse talento e o ajuda, Jun-u precisa suspender o sonho de entrar em uma faculdade de artes, ao menos temporariamente, pois sua mãe está passando por apuros financeiros e ele, de forma muito madura e altruísta, percebe que seria demais para sua mãe tentar resolver seus pepinos financeiros no interior enquanto, ao mesmo tempo, sustenta o filho em uma cidade grande e cara enquanto ele vai para a faculdade.

Quando Soo-bin e Jun-u começam a namorar e têm seu relacionamento descoberto de forma abrupta pela mãe de Soo-bin, Song-hee, a diferença de classe social entre os dois adolescentes é mais do que escancarada. Embora reconheça que Jun-u é um rapaz gentil – depois de muito mau julgamento de sua parte, aliás – Song-hee dá um chilique enorme ao descobrir o romance dos dois, ofende Jun-u e proíbe terminantemente Soo-bin de dar continuidade a esse namoro. Ela chega a tomar atitudes drásticas, desde contratar uma guarda-costas para vigiar sua filha e seguir todos os seus passos, praticamente exigir que o professor Han Gyul desse um jeito de Soo-bin e Jun-u não terem qualquer tipo de contato mesmo pertencendo à mesma turma, até implorar à mãe de Jun-u para trocá-lo de escola.

Mesmo usando como justificativa de que sua filha simplesmente não deveria namorar nessa fase pré-vestibular, a verdade é que Song-hee não suporta a ideia de ver sua filha se relacionando com uma pessoa de uma classe social inferior. Conforme vemos ao longo do dorama, Song-hee é uma pessoa extremamente preocupada com questões relacionadas a sucesso profissional e espera que sua filha, no mínimo, mantenha o mesmo status social que ela arduamente adquiriu e manteve ao longo dos anos. Ver sua filha namorando alguém de outra “casta” é um enorme problema para uma pessoa que luta diariamente para se manter no topo em um sistema que define o sucesso de acordo com a quantidade de dinheiro que você tem.

E mesmo já pertencendo a um alto estrato social, Song-hee sabe que a manutenção de seus privilégios de classe e dar à sua filha a melhor vida possível exigia muuuito puxa-saquismo de sua parte. Vemos várias cenas – até constrangedoras, inclusive – nas quais Song-hee faz de tudo para agradar a mãe de Hwi-Young, pois sabe que ela e sua família são riquíssimos e que só através de contatos assim é que ela poderia garantir que sua filha frequentasse aulas extras de matemática com um bom professor, por exemplo. Soo-bin tem razão em expressar o quão acha vergonhoso sua mãe literalmente se arrastar no chão por uma pessoa só para conseguir mais um acesso, sendo que Soo-bin nem queria ter mais aulas na sua rotina de estudos já muito puxada.

A amizade de Sonh-hee com Yeon-woo, a mãe de Jun-u, até tinha potencial para se constituir uma relação verdadeira em um mar de relações superficiais permeadas pela disputa e pelo exibicionismo. Mas ela também é perpassada pela questão das classes sociais. Enquanto Yeon-woo era apenas uma mãe com múltiplos talentos, simpática, prestativa e que trabalhava temporariamente para Song-hee, não havia problema algum em manter essa espécie de amizade. No entanto, ao saber que sua filha estava namorando o filho pobre de uma mulher pobre, a semente dessa amizade simplesmente não sobrevive, pois nesse momento Yeon-woo e seu filho passam a representar um estorvo no plano de ascensão social detalhadamente delineado por Song-hee para a sua filha.

Ainda sobre Yeon-woo, vale relembrar como ela é visivelmente desprezada pelas mães dos outros alunos da escola, que se sentem superiores a ela e não fazem nenhuma questão de esconder seus julgamentos pois, além de tudo, Yeon-woo foi mãe muito jovem. O único pai com quem Yeon-woo consegue estabelecer um mínimo de diálogo na reunião de pais é com o pai de Oh-je, que possui um pequeno restaurante e está social e economicamente mais próximo de Yeon-woo do que as outras mães ricas dos estudantes daquela turma.

A questão de classe social também fica bastante evidente na relação entre Hwi Young e seu “capacho” Gi Tae. Primeiramente, é preciso ter em mente que Hwi Young vinha de uma família muito abastada. Ele morava praticamente em uma mansão (em uma cidade na qual o metro quadrado vale ouro), tinha acesso a aulas particulares extras com excelentes professores, tudo do bom e do melhor em termos financeiros (em termos familiares e afetivos, a história é outra). Hwi Young fazia suas besteiras a torto e a direito porque tinha certeza absoluta de que seus privilégios de classe o protegeriam de qualquer tipo de retaliação e, além disso, ele tinha Gi Tae para fazer a parte suja de seus planos de expulsão de Jun-u. O fato de Gi Tae sempre fazer os caprichos de Hwi Young e seguir suas ordens cegamente tinha uma razão: Gi Tae não tinha nem metade das oportunidades e privilégios de Hwi Young e achava que a única maneira de ascender na vida seria se colando a uma pessoa que, de certa forma, já estava no topo. Tanto que ele só conseguia frequentar as aulas extras de matemática porque Hwi Young e sua família fizeram isso acontecer, já que Gi Tae não tinha recursos o suficiente para isso. Nem o fato da namorada de Gi Tae, So Ye, colocá-lo contra a parede, exigindo que ela fosse sua prioridade, e não Hwi Young, foi o suficiente para Gi Tae parar de ser o cão de guarda de Hwi Young.

Mas, com o tempo, Gi Tae finalmente se dá conta de que sua amizade com Hwi Young poderia levá-lo a muita confusão e decide cortar esse laço, mesmo que isso significasse ele não ter mais as portas abertas que Hwi Young havia lhe prometido como moeda de troca. É preciso reconhecer que foi necessária bastante coragem da parte de Gi Tae, ainda um adolescente que estava tendo seu caráter formado, conseguir pesar as escolhas e abrir mão de possíveis oportunidades de vida em nome de sua própria honestidade. Nem todos conseguiriam tomar a mesma decisão.

Por fim, talvez o representante-mor da questão do peso das classes sociais seja o absolutamente desprezível pai de Hwi Young. Por fora, ele ostentava a imagem de um CEO bem-sucedido, capa de revista, com um filho estudando um curso super prestigiado como medicina no exterior, um filho mais novo que deveria pelo menos se igualar ao sucesso do irmão, uma esposa dedicada, e uma casa digna da Revista Casa Vogue. Toda essa imagem externa que reforçava a ideia de muito trabalho recompensado com uma vida perfeita escondia uma rotina familiar extremamente violenta, permeada por diversos abusos.

Obcecado pela ideia de manter uma boa imagem e, claro, sua própria classe social, o pai de Hwi Young não hesitava em transformar a vida de todos em um verdadeiro inferno. Ele pregava violência física e psicológica com seu filho e sua esposa (que era basicamente uma alcoólatra, aliás), sempre exigindo que Hwi Young ficasse estudando 24 horas por dia, humilhando-o ao compará-lo com o supostamente bem-sucedido do seu irmão, um verdadeiro terror. Ele não pensa duas vezes em simplesmente se livrar de oponentes do seu filho e, por um momento, consegue mexer os pauzinhos para que Sang Hoon, um aluno da mesma classe de Hwi Young e um gênio na matemática, fosse transferido de escola e de país, só para garantir que Hwi Young continuasse em primeiro lugar. Como se isso não fosse o bastante, a série mostra que ele subornou o antigo professor de matemática da escola para alterar a nota de Hwi Young, um escândalo que acaba vindo à tona mais para o final.

Os efeitos de tanta cobrança em um ambiente familiar completamente hostil logo surtiu seus efeitos. Hwi Young estava se encaminhando para ser exatamente como o pai, identificando em Jun-u um inimigo que poderia “roubar” Soo-bin de si e fazendo de tudo para garantir sua expulsão, incluindo uma acusação falsa de roubo que poderia ter arruinado a vida de Jun-u. Além disso, Hwi Young já estava acostumado com a ideia de que seus pais poderiam fazer qualquer coisa para tirá-lo de qualquer enrascada e ele nem pensa duas vezes em pedir para sua mãe fazer o que fosse necessário. Mesmo que por fora Hwi Young sustentasse a imagem de um aluno inteligente, dedicado e uma liderança que pensava no bem-estar de toda a turma, a verdade é que suas crises de coceira já demonstravam um altíssimo nível de ansiedade.

Felizmente Hwi Young consegue quebrar esse ciclo e, depois do escândalo das notas, ele mesmo toma a decisão de sair da escola e trabalhar como frentista em um posto de gasolina – um significativo “rebaixamento” social necessário para que ele reavaliasse sua vida o rumo que ela estava timando. Ele visita seu irmão – que, na verdade, está em uma clínica psiquiátrica, provavelmente mais uma vítima dos desmandos do pai – e parece estar disposto a começar do zero, inclusive pedindo desculpas para Jun-u se ajoelhando. O caminho a ser trilhado por Hwi Young será longo, mas é bom ver que ele conseguiu dar o primeiro passo para ser uma pessoa autêntica, sem passar pela vida como seu pai, apenas se importando em estar no topo da cadeia alimentar, passando por cima de tudo e de todos.

Quando doramas vão longe demais na suspensão da descrença

De acordo com o Wikipedia, suspensão da descrença “refere-se à vontade de um leitor ou espectador de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias. É a suspensão do julgamento em troca da premissa de entretenimento”.

Bom, basta assistir a um ou dois doramas para saber que a suspensão da descrença é um pilar fundamental para embarcar na história. Meu primeiro dorama, Crash landing on you, já levou esse conceito aos limites ao propor um romance entre duas pessoas que vivem em nações basicamente em estado de guerra. Porém, eu aceito de bom grado suspender minha crença na realidade em nome do entretenimento, como bem define o Wikipedia – e CLOY entregou TUDO, então não tenho mesmo do que reclamar.

Mas, confesso: há casos em que os doramas levam esse conceito longe demais e criam cenas ou situações que beiram o absurdo. Eu amo doramas, mas reconheço quando uma história vai longe demais. Então resolvi escrever esse post para falar justamente de cenas ou de ideias que aparecem em alguns doramas e que exigiram um esforço para além do normal para que eu embarcasse na história.

Another Miss Oh e a cena do “sequestro”

Olha, é verdade que Another Miss Oh exige muita suspensão da descrença em vários sentidos, já que estamos falando de uma protagonista que tem uma “rival” com o mesmíssimo nome e sobrenome – só que muito mais bonita e inteligente – que estudou com ela, trabalhou com ela e até mesmo se apaixonou pelo mesmo homem. Além disso, temos um protagonista com a habilidade de ver cenas do futuro. Nada disso me incomodou nesse dorama, pois o roteiro dele é mesmo fora da curva e eu curti muito a história como um todo.

Porém… há uma cena em específico, quando nosso casal protagonista já está namorando, e que me deixou com uma cara de “PRA QUÊ?”. Estou falando da cena em que Do-kyeong quer muito passar o dia com Hae-young, como todo casal em começo de namoro também deseja. Ele pergunta se ela poderia pedir uma folga no trabalho ou inventar uma desculpa para sair e passar o dia com ele, mas Hae-young diz que isso não era possível.

Pois bem, então qual foi a BRILHANTE ideia de Do-kyeong? Armar com seus amigos/funcionários um suposto sequestro para passar o dia com sua namorada. AH NÃO. E então somos obrigadas a assistir por vários minutos a essa grande patacoada de dois amigos primeiro fingindo serem policiais e levando Hae-young do seu local de trabalho sem mais nem menos, deixando-a super assustada e preocupada; depois vemos Hae-young sendo colocada à força em um carro, sem ainda saber o que estava acontecendo; e depois ainda vemos os pais e colegas de Hae-young indo até a delegacia denunciar um suposto sequestro, já que ninguém sabe onde ela estava nem porque tinha sido levada. No final das contas, a polícia aparece e acaba com o dia romântico dos pombinhos no meio de uma plantação de trigo na pqp. E aqui eu dou TODA a razão para a mãe de Hae-young ficar p. da vida com essa história.

Gente, aqui não estamos falando de adolescentes inconsequentes que fazem tudo pelo fogo da paixão, sabe? Trata-se de um casal que está na casa dos 30 anos e eu tenho certeza que esperar algumas horas para poderem se ver não ia ser o fim do mundo. Ainda mais quando consideramos a personalidade super fechada e sisuda de Do-kyeong, essa cena simplesmente não faz o MENOR sentido.

Ainda bem que o dorama é bom, mas que esses minutos poderiam ter sido utilizados em algo mais útil para a história, ah, isso é verdade.

Angry Mom e uma adulta que “facilmente” se passa por uma adolescente

Eu gosto muito de Angry Mom e, recentemente, fiz um post enaltecendo a força das mulheres nesse dorama. Mas tenho que reconhecer que é basicamente impossível achar que uma pessoa como a atriz Hee-sun, por mais bonita e jovial que seja, fosse uma adolescente do ensino médio.

Logo no primeiro episódio o dorama já força essa ideia goela abaixo ao mostrar Kang-ja indo atrás da filha em um cursinho após a escola e ser “confundida” com uma aluna pelo próprio professor. Quando, em uma atitude desesperada, Kang-ja decide fingir ser uma aluna para estudar na mesma escola e classe com a filha, a fim de descobrir quem está fazendo bullying com sua filha, é impressionante como absolutamente todo mundo acha que ela é uma adolescente mesmo.

Tudo bem que ela inventa ser repetente para explicar porque é um pouco mais velha que a média da turma, mas a verdade é que Kang-ja tinha cerca de 35 anos e, por mais que todos nós saibamos o poder da indústria da beleza e dos cosméticos na Coreia do Sul, é preciso muuuita suspensa na descrença para acreditar que ela facilmente se passaria por uma adolescente de 18/19 anos.

18 again e o fato de (quase) ninguém reconhecer Dae Young 

Bom, assistir 18 again é suspender toda e qualquer descrença, já que o mote da história é de um homem com quase 40 anos que, por um passe de mágica, volta a ter 18 anos e tem a chance de “refazer” a sua vida. Até aí tudo bem, eu assisti ao dorama sabendo disso e que essa era uma releitura do filme estadunidense 17 again.

Mas eu não pude deixar de ficar meio indignada com o fato de praticamente ninguém reconhecer o protagonista Dae Young na sua versão rejuvenescida. Começando pelo seu melhor amigo, que inclusive estudou com ele e passou boa parte de sua juventude com ele, simplesmente surtar e querer bater em Dae Young achando que ele era um ladrão qualquer. Para piorar, quando Dae Young decide estudar com seus filhos (um pouco parecido com Angry Mom, acabo de me dar conta) porque quer se reaproximar e proteger seus filhos, é impressionante que seus filhos simplesmente não o reconheçam em nenhum momento. Eles poderiam não lembrar do pai com 18 anos já que nem eram nascidos nessa época, mas estamos falando dos anos 2000/2010, nos quais fotos já eram algo bastante comum e corriqueiro. Fico me perguntando como raios os filhos de Dae Young nem por um segundo pararam para achar aquele “aluno novo” incrivelmente parecido com seu pai.

A única que parece ter um mínimo de memória nessa história toda é Da Jung, esposa de Dae Young. Quando a adulta Da Jung vê pela primeira vez a versão de 18 anos de Dae Young, ela faz um escândalo, pois seu primeiro (e correto) impulso é achar que seu marido tinha voltado no tempo. Eventualmente ela é convencida de que aquele era apenas um aluno extremamente parecido com seu marido, até que o grande segredo vem à tona depois de muitos episódios, em uma cena com direito a muita emoção e muitas confidências. Mas, aparentemente, em 18 again todo mundo sofre de uma profunda amnésia no que se refere a lembrar o rosto de pessoas próximas no passado, menos Da Jung (e eu nem vou entrar na seara de termos um ator na casa dos 20 e tantos anos interpretando um adolescente de 18 anos, enfim).

Angry Mom e a força das mulheres

Angry Mom, dorama de 2015, é daquelas surpresas positivas. Se não fosse a recomendação de um blog no qual confio muito (aka, The Fangirl Verdict), eu provavelmente não teria procurado assistir uma história de uma mãe que, ao descobrir que sua filha está sofrendo bullying, resolve fingir que é uma aluna e se matricular na mesma escola que a filha. Mas, além da história em si ser muito interessante, teve mais uma coisa que me chamou atenção em Angry Mom desde o início: eu estava diante de um dorama que celebra a força das mulheres. E isso não é a coisa mais comum de se ver em tela ainda. E doramas que aparentemente tinham a intenção de fazer isso (Strong Woman Do Bong-soon, estou falando de você) não fizeram metade do que Angry Mom fez. Então esse é um post que serve apenas para panfletar esse dorama apresentando o que ele tem de melhor: a força e a união das mulheres (excetuando Ae-yeon, obviamente, que no final das contas fez a escolha de ser uma cobra mesmo).

Comecemos por ela, nossa protagonista, a Angry Mom Kang-ja. Esse é um perfeito exemplo da mãe-leoa, disposta a enfrentar tudo e todos para defender a sua filha. Ao ver que sua filha está sofrendo bullying, Kang-ja não mede esforços para, primeiramente, acionar os meios oficiais para achar uma solução. Ela enfrenta a direção da escola e chega até mesmo a ir ao departamento de educação. Porém, a despeito de suas muitas tentativas, Kang-ja percebe que simplesmente não pode contar com a justiça e nem mesmo com seu marido para proteger a sua filha.

Sem encontrar respostas nas instituições que deveriam proteger a vida escolar de sua filha, Kang-ja toma a atitude drástica de se passar por uma aluna e se infiltrar na escola (uma boa dose de suspensão de crença na realidade é necessário para se convencer de que Kang-ja poderia facilmente se passar por uma adolescente do ensino médio, enfim). Mas mal sabia Kang-ja que o bullying sofrido por sua filha era apenas a ponta do iceberg de um enorme esquema de corrupção, envolvendo, inclusive, o próprio ministro da educação.

Logo nos primeiros episódios vemos Kang-ja usando de sua força para partir pra cima de quem estava enchendo o saco de sua filha, e sobra até para nosso querido professor No-ah. Rapidamente Kang-ja se coloca como líder das meninas que antes desprezavam sua filha e descobre que não é o uso da força física que lhe traria respostas. Além de corajosa, Kang-ja é muito perspicaz e inteligente, conseguindo enxergar além do óbvio e ir atrás de quem está tornando a vida de sua filha um inferno.

Embora consiga esconder de seu marido e de sua sogra essa “dupla identidade”, eventualmente sua família descobre e desaprova veementemente o que Kang-ja está fazendo. E nem isso é suficiente para dissuadir Kang-ja de proteger sua filha e descobrir a história por trás de tantas agressões. Seu marido ameaça pedir o divórcio diversas vezes e sua sogra a ameaça expulsar de casa, mas Kang-ja não se dá por vencida: ela ignora o drama do marido e responde em alto e bom som para sua sogra que ela não poderia ser expulsa da casa que ela ajudou a comprar. Considerando que a família é um pilar importantíssimo na sociedade coreana e que é esperado que a mulher cumpra o papel de ser obediente e serva, é de se admirar (e muito!) o quão Kang-ja está disposta a enfrentar uma instituição tão forte.

Mas o plano mirabolante de Kang-ja jamais teria dado certo se não fosse o apoio incondicional de sua amiga, Gong-joo, e essa personagem é tão incrível que merece uma seção só para ela.

Primeiro que Gong-joo é uma verdadeira badass. Ela é uma mulher E dona de um clube noturno, o que é muito raro, para dizer o mínimo. Ela tem vários homens que trabalham sob seu comando, além de seus dois fieis escudeiros que fazem absolutamente tudo o que ela manda e são verdadeiros cães fiéis. A mulher é empresária, tem dinheiro e comanda vários empregados. You go, girl!

Quando Kang-ja pede sua ajuda para fingir ser uma estudante do ensino médio, Gong-joo entende perfeitamente os motivos que estão levando sua amiga a tomar uma atitude tão desesperada. Mesmo sem ser ela mesma uma mãe, ela se compadece do sofrimento de sua grande amiga, que está vendo sua filha ser machucada e ser internada após um colapso mental. E aqui não estamos falando apenas de apoio moral: Gong-joo aceita fingir ser a mãe de Kang-ja, falsifica documentos e ajuda sua amiga em todos os passos da investigação, inclusive se envolvendo pessoalmente em ações para pegar os culpados. Inclusive, ao ser chamada à escola como “mãe de Kang-ja” e ser chantageada pelo diretor (outro safado dessa história)para lhe pagar suborno, Gong-joo não pensa duas vezes e lhe dá uma bela surra. Amei a cena, confesso. Enfim, Gong-joo sabe que está fazendo coisas perigosas e, potencialmente, criminais, mas sua coragem e sua lealdade falam mais alto.

O ápice de suas ações na série é quando consegue reunir e convencer um enorme grupo de mães a ir até a escola e protestarem pela falta de segurança da construção do novo anexo. Gong-joo sabia que é preciso coragem para esse tipo de atitude e, de forma muito inteligente e sensível, foi basicamente buscar cada mãe em sua própria casa, em um grande esforço coletivo de reverter uma situação que estava colocando a vida de centenas de adolescentes em risco. Maravilhosa, fala sério.

Esse post não estaria completo sem enaltecer também a força e a coragem de Ah-ran, filha de Kang-ja e que, de certa forma, foi quem deu origem à história. No início, ela não conta para sua mãe quem está lhe agredindo nem por que está sofrendo bullying por vários motivos mas, o principal deles, é porque ela estava protegendo a sua amiga Yi-kyung. Sua amizade com Yi-kyung se mostra ser muito forte e ela acaba sofrendo as consequências disso, já que Yi-kyung acabou em uma situação muito complicada, para dizer o mínimo. Mesmo sabendo que sua melhor amiga era alvo de perseguições, em nenhum momento Ah-ran a abandona.

Quando algo muito trágico acontece com sua amiga, Ah-ran não se cala e quer saber as respostas. Ela sai do hospital onde estava internada após um colapso mental, vai até o velório de sua amiga e acusa abertamente o PODRE do Jung-woo de ter causado a morte de sua amiga. Ela só para com a gritaria e as acusações ao se dar conta de que Jung-woo é um homem perigoso e que poderia fazer mal não somente a ela, mas também a toda sua família. Fingindo ter se esquecido do que aconteceu e do que fez, Ah-ran volta à escola e continua realizando suas investigações por conta própria. Em memória de Yi-kyung, Ah-ran está disposta a ir até as últimas consequências para descobrir quem matou sua amiga, pois ela sabia perfeitamente que não se tratava de um suicídio, e sim, de um ato criminoso.

Ao longo da série, é muito interessante também ver como a relação de Ah-ran com sua mãe vai se fortalecendo. Se no primeiro episódio vemos Ah-ran dizendo que era um problema Kang-ja ser sua mãe, ao longo dos capítulos vemos Ah-ran reconhecendo tudo que sua mãe está fazendo em nome de sua proteção e, mesmo na turbulência dos sentimentos da adolescência, consegue achar um caminho de parceria e cumplicidade com sua mãe.

Doramas para quem gosta de arte

2023 foi um ano em que eu, intencionalmente, me dediquei mais às artes. Isso está bem longe de significar que eu sou artista ou que eu seja excelente em alguma linguagem artística, pelo contrário. Mas esse com certeza foi um dos anos em que eu mais fiz e consumi arte. E isso implica coisas bem simples, na verdade: eu comecei a fazer dança de salão, voltei a desenhar, continuei escrevendo nesse blog, li muito, assisti a doramas, fui a musicais, a museus, ouvi muitas músicas novas…

Dança, desenho, escrita, leitura, produções audiovisuais e música foram parte muito importante do meu ano e é isso que me inspirou a escrever essa lista de doramas que giram em torno de alguma linguagem artística. Então aqui ficam as dicas para quem quer aproveitar a arte do dorama e, de quebra, mergulhar em outro tipo de arte enquanto curte a experiência 🙂

Para quem gosta de música: Do you like Brahms?

Do you like Brahms? foi um dorama que assisti em 2023 e que faz uma espécie de releitura da história do compositor de música clássica Brahms, que era apaixonado pela esposa de seu melhor amigo, Clara. No dorama, entre encontros e desencontros amorosos, acompanhamos a jornada de Song-ah, uma violinista muito esforçada e que está cursando a faculdade de música após ter se formado em Administração, em busca da realização do sonho de se tornar uma profissional e tocar em uma orquestra. O dorama mostra muito bem o quão difícil e elitista é o mundo da música clássica, ainda mais em um país extremamente competitivo como a Coreia do Sul. Além de Song-ah, acompanhamos também a jornada de outra violinista, Jung-kyung, muito talentosa, mas também muito deprimida e atormentada; Hyun-ho, um violoncelista; e o par romântico de Song-ah, Joon-young, que, embora seja um prodígio do piano, precisa lidar com professores mau caráter e uma família problemática. O dorama é ideal para quem quer mergulhar no mundo da música clássica e acompanhar a difícil jornada de jovens musicistas.

Bônus: Outro dorama que faz uma imersão no mundo da música clássica é Secret love affair. Eu não super amo esse dorama, mas é uma opção interessante que, além de explorar o talento nato de pessoas humildes, mostra os bastidores corruptos de uma fundação de música. Além disso, as cenas em que Hye-won e Ah-in tocam piano juntos são um puro deleite para os ouvidos.

Para quem gosta de dança: Navillera

Navillera é um dos meus doramas favoritos da vida e eu não estou sozinha nessa porque sobram elogios para essa joia internet afora. Nele acompanhamos Deok-chul, um senhor de 70 anos, que decide realizar o seu sonho de aprender a dançar balé. Seu professor será Chae-rok, um jovem bailarino prodígio, mas que precisa de mais disciplina para alcançar todo o seu potencial. Acompanhar o caminho desses dois, seus desafios e suas superações é uma das coisas mais lindas de se ver. Sabemos que o mundo do balé pode ser muito cruel e competitivo, mas Navillera opta por mostrar uma história que valoriza as relações humanas e um encontro intergeracional muito potente. Que coisa linda.

Bônus: No mundo dos BL, You make me dance retrata a história de Shi On, um jovem bailarino endividado, e Hong Seok, que trabalha no banco para o qual Shi On está devendo. Além do romance entre os protagonistas, o web drama é repleto de cenas de Shi On treinando e se aperfeiçoando, até chegar a um teste importante. Aqui, vemos mais uma dança contemporânea.

Para quem gosta de desenhar: Our beloved summer

Eu amo, amo, amo Our beloved summer e toda sua história sobre segundas chances. Mas, como o foco desse post é a arte, o que vou destacar desse dorama é Woong, o protagonista que, embora fosse um péssimo aluno no ensino médio, se provou um exímio desenhista. Aqui valem duas observações interessantes. A primeira é que o dorama mostra como o fato de uma pessoa não tirar notas altas na escola não significa que ela não tenha outros talentos. Afinal, Woong dormia nas aulas e era um aluno bastante relapso, mas desde cedo mostrou um talento muito acima da média quando o assunto era desenhar. Assim, foi nesse caminho artístico que Woong se realizou, e seu passado escolar em nada prejudicou sua carreira. Outra coisa interessante é que Woong é especialista em reproduzir prédios que existem através de seus desenhos (confesso que demorei um tempo para entender que esse era o tipo de desenho que ele fazia). Isso adiciona um toque diferente ao dorama, já que a arte de Woong, na verdade, estaria mais próxima da Arquitetura do que de pintura de telas, por exemplo. Então, para além de acompanharmos a história de Woong e Yeon Soo, é muito legal ver como Woong é dedicado e talentoso em sua arte, inclusive mostrando a Yeon Soo um lado que ela conhecia muito pouco quando estavam juntos.

Bônus: It’s okay not to be okay também nos presenteia com um excelente desenhista, Sang Tae, um homem que está no espectro autista e que possui muito talento para desenhar, especialmente para histórias infantis.

Para quem gosta de ler: Romance is a bonus book

Essa é uma recomendação meio óbvia, mas quando eu penso em literatura, é inevitável não pensar em Romance is a bonus book. Eu gostei muito de acompanhar a jornada de Dan Yi enquanto uma mulher na casa dos 30 anos, divorciada e com uma filha, e que tenta retomar sua carreira enquanto profissional de marketing em um meio extremamente machista e misógino. Quando finalmente consegue um emprego em uma editora de livros, após omitir de seu currículo sua formação para conseguir um cargo júnior e começar do zero, é um enorme prazer ver como Dan Yi vai crescendo por ter ideias originais, como ela está disposta a aprender e como um potencial tropo de rivalidade feminina é subvertido para vermos mulheres se apoiando e fortalecendo o trabalho da outra. Para uma amante de livros como eu, ver a rotina de uma editora de livros, os desafios, os acertos, os erros e tudo o mais foi uma maravilha. De quebra, o dorama também traz os bastidores da criação das capas dos livros, por meio do pintor Seo-joon.

Para quem gosta de escrever: Yumi’s cells

Embora na primeira temporada já saibamos que Yumi gostaria de ser uma escritora, é na segunda temporada que esse lado dela é mais explorado, quando ela decide pedir demissão de seu emprego para tentar a vida de escritora. E o dorama é bastante realista ao mostrar o quanto esse caminho é muito duro: Yumi não é rica e vive de seu próprio dinheiro, de forma que ela precisa começar a viver dos ganhos de escritora rápido, pois sua poupança não ia durar para sempre. A pressão financeira em uma profissão bastante difícil é um grande desafio para Yumi, mas ela se dedica de verdade a esse novo ofício, escrevendo muitas horas por dia, fazendo cursos e lendo muito para se aprimorar. Seu sucesso como escritora demora para acontecer e, antes disso, ela teve que ouvir muitos nãos e se decepcionou muitas vezes. E mesmo quando começa a dar certo, Yumi não fica magicamente rica: ela continua tendo contas para pagar e tendo que lidar com bloqueios criativos, como muitos escritores.

Bônus: Vou arrumar sim mais uma desculpa para panfletar Because this is my first life. Nesse dorama, também temos a chance de ter uma ideia de como é a vida de uma escritora, embora com um foco um pouco diferente, já que a especialidade da protagonista Ji-ho é escrever roteiros para doramas. Aqui também vemos um caminho muito difícil: mesmo sendo formada pela melhor universidade do país, Ji-ho não tem seu talento reconhecido e, após passar por um episódio muito pesado, ela decide desistir de seu sonho. Eventualmente as coisas acabam dando certo, mas, assim como Yumi, vemos como Ji-ho se esforça muito para se provar e ter seu talento finalmente reconhecido.

Para quem gosta de pinturas: Her private life

Não poderia de deixar de citar Her private life quando o assunto é a linguagem artística visual. Nesse dorama, temos a oportunidade de acompanhar a vida dupla de Deok Mi, uma talentosa curadora de um museu de artes e que, nas horas vagas, é uma fã incondicional de um idol do K-pop. Para manter o museu de pé mesmo após escândalos de corrupção, Deok Mi precisa se provar continuamente, sendo extremamente cuidadosa com as obras de arte do museu e sabendo exatamente o que vale a pena ser adquirido ou não. Seu par romântico, Ryan Gold, diretor do museu no qual Deok Mi trabalha, é um expert no assunto e, além disso, um pintor renomado que sofre um bloqueio criativo há anos. Ver a dupla em tela significa ter uma bela aula sobre relacionamentos saudáveis e, claro, sobre a rotina de um museu.

Bônus: Dali and the cocky prince também é um dorama ambientado no mundo das pinturas. Da-li é uma personagem basicamente perfeita. Intelingentíssima e uma verdadeira amante das artes, ela precisa matar um leão por dia ao herdar subitamente o museu de seu pai, ainda por cima cheio de dívidas. O dorama é ótimo para quem ama pinturas e nos mostra o dia a dia de um museu, seus problemas, seus desafios e a organização passo a passo de uma exposição, por exemplo.

Para quem gosta dos bastidores de doramas: Be melodramatic

Olha, Be melodramatic não é um dorama que me pegou, para ser sincera, embora eu tivesse muitas expectativas para acompanhar a vida de três amigas na casa dos 30 anos. Mas para quem tem curiosidade e interesse em conhecer como um dorama nasce, Be melodramatic é uma ótima pedida, já que as três amigas protagonistas trabalham em diferentes partes da produção audiovisual. Uma é roteirista, a outra trabalha em uma produtora e a outra é dona de uma empresa de filmagem. Eventualmente, todas acabam trabalhando em um mesmo projeto e ficamos tendo um gostinho do trabalhão que é produzir um dorama.

Meu 2023 e meus doramas

2023 foi meu terceiro ano no mundo dos doramas e, comparado ao ano passado, eu pisei no freio e assisti a menos doramas. Isso porque eu voltei a assistir mais séries estadunidenses (uma salva de palmas para The Great e What we do in the shadows, simplesmente maravilhosas) e também porque tive uma ressaca de doramas, especialmente após dropar Strong Woman Do Bong Soon (sério, que desperdício ter um tropo tão legal e gastar isso com cenas e episódios muito ruins).

Uma outra constatação desse ano é que eu tenho a impressão de ter assistido a menos doramas que viraram favoritos da vida. Isso não quer dizer que eu tenha assistido a doramas ruins, necessariamente, mas que poucos parecem realmente terem mexido comigo.

Ainda assim, eu me diverti e me emocionei nesse terceiro ano da minha jornada como dorameira, e aqui está a lista dos que eu recomendo avidamente. Mais uma vez, vale o disclaimer: a maior parte desses doramas não foram lançados em 2023, pois meu critério para assistir a um dorama é um só: porque eu quero 🙂

Our blues

Our blues provavelmente foi meu dorama favorito que assisti em 2023. Ambientado na Ilha de Jeju, o dorama de 20 episódios perpassa pela vida de vários habitantes da ilha, suas histórias e seus dramas pessoais. Dedicando alguns episódios para explorar cada personagem, em Our blues vemos histórias sensíveis que abordam muitos temas, como o primeiro amor que não se concretizou, gravidez na adolescência, relações familiares conturbadas, amigos que viraram inimigos ferozes, só para citar alguns. Uma joia de dorama, definitivamente.

Yumi’s cells (1ª e 2ª temporadas)

Ah, como eu AMEI Yumi’s cells, Eu não botava muito fé que uma versão adulta do filme Divertidamente daria certo, mas como é bom estar enganada. Acompanhar o dia a dia de Yumi e o que ocorre nas suas células em forma de animação foi genial. É impressionante como as experiências humanas foram tão bem retratadas por meio das células que expressam emoções tão diferentes e tão intensas. Amei as duas temporadas com igual intensidade, a tal ponto que escrevi dois posts: um sobre as lições da primeira temporada e outro sobre ser feliz sozinha.

Mr. Queen

Ainda no campo de doramas divertidos, Mr. Queen foi outra maravilha de 2023. Contando a história de um chefe de cozinha famoso e mulherengo, Jin Hyuk, que, por esses passes de mágica sem explicação, acaba no corpo de uma rainha da era de Jonseon, Mr. Queen é daqueles doramas de chorar de rir. As tentativas desesperadas de voltar ao seu corpo e tempo originais aos poucos dão espaço para que Jin Hyuk tenha que aprender a navegar e a sobreviver em um palácio cheio de intrigas, impressionar a todos com suas habilidades enquanto um cozinheiro do século XXI (mas com recursos de séculos passados) e se ver questionando sua heterossexualidade de macho alfa conforme inevitavelmente vai se aproximando do rei Cheol Jong. Menção mais que importante aos atores que interpretam os protagonistas, que conseguiram trazer para a tela um timing de comédia muito difícil de se fazer.

First love

Minha primeira experiência com um J-drama (drama japonês) não poderia ter sido melhor iniciada do que com a pérola que é First Love. Mesmo usando um tropo bastante batido do primeiro amor, First Love consegue a proeza de entregar um trabalho extremamente sensível e bem feito, com atuação, roteiro, direção e fotografia impecáveis. Assistir aos encontros e desencontros de Yae e Harumichi, que começaram um namoro quando jovens e tiveram sua história interrompida, foi uma das melhores coisas que assisti em 2023.

Mad for each other

À primeira vista, Mad for each other seria daqueles doramas que beiram uma comédia pastelão, mas esse é mais um daqueles casos que a premissa engana (e a inda bem!). Nele, vemos um policial afastado por não conseguir controlar sua raiva chamado Hwi-oh e que ganha como vizinha uma “doida excêntrica” chamada Min-kyung, que tem mania de perseguição e vive em um constante estado de ansiedade. Eu gostei muito do dorama, especialmente das reflexões que a história de Min-kyung nos traz, sobre como é fácil duvidar e julgar mulheres.

Call it love

Call it love foi provavelmente o único dorama lançado em 2023 e que eu assisti em 2023. A estreia da Disney no mundo dos doramas foi muito bem-sucedida, optando por um melodrama que começa como uma história de vingança. Woo-joo, que inicia uma saga buscando se vingar de sua madrasta através de seu filho, Dong-jin, descobre no caminho sentimentos que não conhecia. Dong-jin, por sua vez, aos poucos sai do seu casulo de solidão e ressentimento para prestar mais atenção ao que acontece à sua volta, passando a se importar genuinamente com as pessoas. E, no fundo, Call it love, embaixo de sua camada carregada de sentimentos como tristeza, raiva e solidão, fala de pessoas boas. E isso, meus amigos, é muita coisa.

Extraordinary attorney Woo

Eu lembro que quando esse dorama saiu na Netflix foi o maior auê, muita gente assistindo (inclusive não dorameiras) e adorando. Em 2023 eu finalmente me rendi e a verdade é que eu amei. Foi muito interessante ver a advogada Young-Woo, que está no espectro autista, ter seu primeiro emprego em um importante escritório de advocacia, e todos os desafios que precisa lidar, os sentimentos que descobre ter, e ter sua genialidade colocada à prova a cada novo caso. Eu amei tudo nesse dorama, desde a atuação impecável de Eun-bin, os casos que o escritório defendia – que eram muito diversos entre si – a amizade e o amor que vemos nascendo e se fortalecendo… Uma experiência adorável e já estou ansiosa para a segunda temporada.

Menções honrosas

Happiness: na falta de uma segunda temporada de All of us are dead em 2023, o dorama de zumbi do ano foi Happiness. A mistura de um ataque zumbi com um casamento por contrato poderia ter dado errado, mas que bom estar enganada e ter curtido assistir a esse dorama. Mulheres fortes, nós vemos por aqui também.

Hit the spot: eu acho que esse web-drama saiu em 2023 também e seu lançamento abalou as estruturas da dramaland, já que seu foco é falar abertamente sobre a sexualidade feminina. Ponto para essa produção, que soube tratar de maneira responsável e sem male gaze um assunto ainda muito tabu.

Do you like Brahms?: fazendo um paralelo com a história real do compositor Brahms e seu amor por Clara, a esposa de seu melhor amigo, Do you like Brahms? te mergulha no mundo da música clássica. Com um passo lento, quase contemplativo, o dorama ainda traz uma importante lição: nem sempre esforço é o suficiente para se alcançar nossos sonhos.

The light in your eyes (Dazzling): a história de uma moça de 25 anos que, da noite para o dia, se torna uma senhora de 70 anos tem um grande plot twist e merece estar na lista por retratar a velhice de maneira muito realista e sensível.

A jornada de Kang-jae rumo ao amor

Lost é um dos meus doramas favoritos da vida. Com uma história carregada e, ao mesmo tempo, sensível, é daqueles doramas que focam na força das relações humanas – muitas vezes surgidas de maneira absolutamente inusitada – e seu poder em tirar as pessoas do fundo do poço.

Eu já fiz um post comparando o dorama a um livro que amo de Dostoievsky, chamado “Noites Brancas”, mas não me canso de falar e de escrever sobre esse dorama. Por isso hoje eu quero explorar Kang-jae, o protagonista de Lost e sua jornada rumo ao amor. E que lindo foi acompanhar essa jornada ao longo de 16 episódios.

Para entender essa jornada de Kang-jae, esse post nada mais é do que um destrinchamento de uma cena já nos episódios finais, na qual Kang-jae mergulha em reflexões sobre o que é o amor, quando está prestes a se encontrar Bu-jeong não como um prestador de serviços, mas sim como uma pessoa que está apaixonada. Mas, para se chegar a esse ponto, precisamos voltar no tempo e ver mais a fundo quem era Kang-jae e como se deu esse caminho, passo a passo, até ele se dar conta do que estava sentindo pela primeira vez.

Na primeira cena de Lost somos apresentados a um Kang-jae sorridente entrando em um quarto de motel com uma mulher. Embora, oficialmente, Kang-jae seja um “substituto perfeito”, fingindo ser o amigo, namorado ou familiar de quem lhe pagar, a verdade nua e crua é que Kang-jae é (também) um garoto de programa. Dada a natureza dos serviços que presta como um garoto de programa, uma premissa básica que se espera é que ele mantenha uma relação fria e distante com suas clientes, não demonstrando qualquer tipo de afeto nem desenvolvendo sentimentos para além de uma transação comercial. Já quando é pago para apenas ser amigo de alguém – o que Kang-jae faz muitas vezes – vemos um paradoxo: embora seja perfeitamente capaz de fingir ser amigo de qualquer pessoa, na vida real, Kang-jae tem dificuldades em estabelecer laços verdadeiros de amizade. Sua relação com Tak e Min-jung, por exemplo, ainda se mostra como uma amizade distante, sem que ele se sinta confortável para expressar o quanto se sente solitário e deprimido, por exemplo. Na frente deles, Kang-jae mantém uma postura blasé, não permitindo que eles acessem camadas mais profundas de sua personalidade.

Assim, Kang-jae passa boa parte de sua vida acreditando que quem lhe amava mais é quem lhe dava mais dinheiro. E esse tipo de associação não permitia a Kang-jae viver relacionamentos afetivos genuínos e sinceros, já que suas relações eram majoritariamente baseadas em quanto as pessoas estavam dispostas a pagar para ter sua companhia.

O ponto de virada é o suicídio de seu amigo Jung-woo, que estava sumido há um tempo. Inicialmente, a preocupação de Kang-jae é só pelo fato de esse amigo estar lhe devendo dinheiro e é isso que o motiva a querer saber o que aconteceu com ele. Porém, quando é informado de que ele havia cometido suicídio se afogando em um lago, Kang-jae começa a acessar partes de si que não conhecia. A notícia é um baque para ele e, embora ele tente manter uma postura neutra, a verdade é que isso o dilacera. Ele cuida do funeral de Jung-woo e coloca para tocar no celular a música favorita dele, Hallelujah, demonstrando que ele sabia perfeitamente dos gostos e preferências de seu amigo e quer prestar uma última homenagem. Mesmo escondido de Tak, Kang-jae deita no chão e chora pela morte de Jung-woo de forma sincera e doída.

Ainda em relação ao amigo que cometera suicídio, Kang-jae se sente muito incomodado e triste com o ocorrido e quer saber o que estava por trás de uma decisão tão drástica. É isso que leva Kang-jae a mergulhar mais a fundo na história de seu amigo e descobrir coisas das quais ele não tinha a menor ideia, começando pelo fato de ele ter um filho que estava gravemente doente e que não pode ser salvo. Compreender que por trás de um amigo que lhe devia dinheiro havia uma história de muita dor e sofrimento da qual ele não tinha ideia foi o pontapé inicial para a mudança na vida de Kang-jae.

Paralelamente a esse ponto de virada no qual Kang-jae começa, muito aos poucos, a se importar verdadeiramente com as pessoas, Bu-jeong entra na história. Inicialmente, sua relação com ela é puramente uma transação comercial. A surpresa é que, mesmo marcando o encontro em um motel, ela entra em contato com ele porque queria alguém com quem pudesse simplesmente ficar em silêncio. Foi uma atitude meio desesperada de Bu-jeong, que estava deprimida e não suportava mais as interações com seu marido e sua sogra, de forma que ficar quieta com um estranho lhe pareceu uma boa ideia. Kang-jae, embora surpreso com tal pedido, respeita a escolha de Bu-jeong e demonstra estar atento a ela: ele vê que seu pé está machucado por conta do sapato que estava usando (e inclusive compra um band-aid para ela depois) e a avisa do botão de sua blusa que estava faltando. Parecem gestos corriqueiros, mas o que estamos assistindo é a carapaça de Kang-jae sendo muito aos poucos desfeita, um coração deprimido e aparentemente egoísta que começa a enxergar as pessoas à sua volta e a verdadeiramente se importar com elas.

Ao longo dos episódios, vemos como Kang-jae vai trilhando sua jornada rumo ao amor e descobrindo esse novo sentimento através de pequenos e grandes gestos. Ao flagrar Bu-jeong no último andar do prédio onde ele mora, cogitando mais uma vez cometer suicídio, ele, do jeito dele, consegue dissuadi-la e toma a iniciativa de começar uma conversa envolvendo assuntos mais pessoais. Em outro momento, o pai de Bu-jeong dá a Kang-jae um pedaço de bolo, sem saber que era seu aniversário naquele dia. Após receber a fatia de bolo e já no seu apartamento, Kang-jae se encontra com seus pensamentos e se sente grato por Bu-jeong que, mesmo sem saber, fez do aniversário dele um momento feliz, coisa que não acontecia há muitos anos.

Alguns episódios depois, Kang-jae se vê obrigado a se afastar de Bu-jeong após receber ameaças de que eles seriam expostos, pois alguém tinha fotografias dos dois se dirigindo a um motel. É visível o quanto Kang-jae se entristece com essa decisão, excluindo o contato de Bu-jeong e cortando seu cabelo, em um gesto de tentar seguir em frente. Porém, mais uma vez o destino, ou melhor, Bu-jeong os coloca no mesmo caminho, quando pede que ele vá lhe resgatar na delegacia.

Quando Kang-jae vai resgatar Bu-jeong da delegacia, mais uma vez por suspeita de cogitar cometer suicídio se afogando em um lago, Kang-jae tem a chance de, pela primeira vez, ter uma longa conversa com Bu-jeong. Ele propõe que os dois subam a montanha para ver as estrelas – o que demonstra uma grande sensibilidade de sua parte já que, mesmo sem expressar em palavras, ele sabe que Bu-jeong não estava em um bom momento e que uma caminhada para apreciar a natureza lhe faria bem. Nesse ponto, Kang-jae ainda não sabia nomear o sentimento que sentia por aquela mulher tão instigante e que continuava a reter sua atenção. Mas ele sabe que se sente atraído por ela e tenta beijá-la na cabana. Quando ela recusa, ele propõe, então que eles sejam amigos, pois não consegue evitar o desejo de continuar perto de Bu-jeong.

Kang-jae finalmente se dá conta de que o que está sentindo pela primeira na vida se chama amor quando toma a iniciativa de enviar uma mensagem para ela pedindo para encontrá-la. Sem cumprir um papel de substituto perfeito, e sim apenas sendo Kang-jae, um homem apaixonado que não consegue se segurar de tanta ansiedade, esperando o dia todo que Bu-jeong lhe responda. É nesse momento que também vemos Kang-jae começar a se abrir para um amigo: quando Tak lhe pergunta o que estava acontecendo com ele, pois era claro o quanto Kang-jae havia mudado, ao invés de lhe dar uma resposta ríspida, como seria de se esperar, Kang-jae é muito sincero e diz que ainda não sabe direito o que está acontecendo com ele, então pede para que Tak espere. Para uma pessoa que tratava seus amigos de forma fria e distante, é um grande passo Kang-jae admitir que está passando por algo que ainda não sabe nomear, mas que está disposto a dizer o que é quando descobrir.

Quando finalmente encontra Bu-jeong, despido de sua personalidade de substituto perfeito e ansiando para vê-la, sem nenhum tipo de jogo ou disfarce, acompanhamos o monólogo/discurso para o pai que Kang-jae produz em seus pensamentos enquanto se dirige à Bu-jeong. Após anos acreditando que amor era sinônimo de dinheiro, Kang-jae se dá conta de que, pela primeira vez, não era ele que estava “recebendo” amor, mas sim a pessoa que estava amando. E sua dúvida é sobre o que ele pode fazer por quem está amando; em outras palavras, ele está ciente do sofrimento de Bu-jeong e de suas tentativas de suicídio e, de forma muito altruísta, deseja genuinamente fazer algo por ela. A conclusão que chega, então, é que o que ele pode fazer por ela é ser sincero. E é a partir dessa conclusão que Bu-jeong dá largos passos até ela e a abraça no meio da rua – no fundo, ele entende que o que pode fazer por Bu-jeong é entregar seu coração, de forma pura e sincera. E é esse novo Kang-jae que temos o prazer de ver em tela, hesitando antes de beijar Bu-jeong para lhe dar a chance de recusar, se ela quisesse e, mesmo tendo seu beijo interrompido ao se assustar com algumas pessoas que passam ali perto falando alto, Kang-jae, ao invés de afastar Bu-jeong, a abraça e diz, com todas as letras, que sentiu sua falta. Sem condições de assistir a uma cena dessa e ficar indiferente.

A partir daqui, vemos Kang-jae ainda mais curioso e interessado em Bu-jeong e ela finalmente se sente segura para compartilhar com ele detalhes muito dolorosos e pessoais de sua vida que culminaram na situação onde ela se encontrava. Após se separarem de forma abrupta, Kang-jae está tão ansioso que busca em sua mãe uma pessoa para quem possa falar, em linhas gerais, sobre o que está sentindo.

Infelizmente, a vida acontece e Bu-jeong decide cortar relações com Kang-jae, pelo menos por um tempo já que, no final, vemos ela decidindo ir ao mesmo observatório de estrelas que fora um ano atrás, claramente porque sabia (e talvez esperasse) que Kang-jae também estivesse lá. Como eu já falei nesse post aqui, não sabemos ao certo como nem se será possível uma relação amorosa entre Kang-jae e Bu-jeong. Mas o fato é que testemunhamos o encontro de duas almas perdidas que encontram uma na outra a vontade de viver. E que Kang-jae nunca mais será o mesmo após ter sido atravessado pelo amor.

As inversões de estereótipos de gênero que a gente gosta

“Mulheres são delicadas”, “Mulheres são sensíveis, “Mulheres sabem cuidar”. Quantas vezes não ouvimos essas frases como se delicadeza, sensibilidade e cuidado fossem características inerentes das mulheres, não é mesmo? E sim, embora haja muitas mulheres que correspondem a essas características – muitas vezes como um processo de socialização, pois, como dizia Beauvoir, nenhum destino biológico está associado ao fato de ser mulher – há tantas outras mulheres que estão bem longe de corresponder a esses estereótipos de gênero.

E a dramaland, ao mesmo tempo em que retrata muitas mulheres delicadas e tudo o mais, também nos apresenta muitas mulheres que fogem desses estereótipos de gênero. Afinal, ser mulher pode significar muitas coisas, e é essa diversidade que deve ser vista como algo louvável.

Por isso, nesse post, quero trazer algumas protagonistas de doramas que estão longe de serem o “padrão” esperado de uma mulher, em um ou muitos aspectos. São mulheres protagonistas que nos mostram que ser mulher no mundo pode ser um prato cheio de possibilidades, desde que estejamos livres de cumprir papeis pré-definidos apenas pelo nosso gênero.

Eun-chan – Coffee Prince

A primeira mulher dessa lista não podia ser outra a não ser Eun-chan, de Coffee Prince, que mereceu o primeiro post desse blog. Eun-chan desafia todas as noções sobre o que é ser mulher ao desafiar inúmeros estereótipos de gênero. Começando por sua aparência, Eun-chan usa cabelos curtos e roupas antes de tudo confortáveis – vestidos, saltos e longos cabelos ao vento não fazem muito o seu estilo. No mundo do trabalho, Eun-chan já foi professora de taekwondo, trabalhou como delivery e fingiu ser homem para trabalhar como garçom em um café. Mesmo ouvindo de todos os lados que ela deveria ser mais “feminina”, Eun-chan vê que isso simplesmente não faz sentido para seu estilo de vida: ela precisava trabalhar muito para sustentar sua família e não tinha tempo para cultivar hábitos de beleza. Mesmo quando começa a namorar, Eun-chan não muda seu estilo e não cede às pressões nem da família de seu namorado para ser uma mulher “de verdade”.

Moon-young – It’s okay not to be okay

A nossa protagonista do aclamado It’s okay not to be okay, Moon-young, embora desfile looks de passarela, saltos, maquiagem e cabelo impecáveis, também possui muitos traços que fogem do que se espera de uma mulher ao considerarmos estereótipos de gênero. Ela não é nada simpática nem delicada, agindo em interesses próprios quando lhe convém. Seus gritos e sua atitude, no geral, em nada correspondem à ideia de uma mulher doce e “comportada”. No quesito “recatada e do lar”, Moon-young não é nenhum dos dois. Ela não tem nenhum tipo de amarra em demonstrar seu interesse romântico e sexual por Gang-tae e é ela quem toma a iniciativa para que eles deem um passo além em sua relação. No que diz respeito ao lar, Moon-young possui zero habilidade em cuidar da casa ou cozinhar; quem faz isso, e muito bem, na verdade, é Gang-tae e Sang-tae, dois homens que desde cedo aprenderam a cuidar de si mesmos e dos outros.

Da-li – Dali and the Cocky Prince

Assim como Moon-young, Da-li não possui habilidades esperadas de uma mulher, como saber cozinhar. Em Da-li and the cocky prince, quem manda bem na cozinha é Moon-hak, como bom presidente de uma rede de restaurantes que é. Outra característica que Da-li compartilha com Moon-young é o fato de tomar a iniciativa quando tem interesse em um homem: ao invés de ficar sentadinha esperando que as coisas aconteçam, Da-li é quem toma a iniciativa de beijar Moon-hak e, posteriormente, é ela que deixa bem claro que, para ela, eles poderiam dormir juntos logo no início do namoro – inclusive eu amo a cena em que ela se mostra surpresa em ver que Moon-hak é que supostamente é mais conservador nessa seara. Outra coisa que gosto muito em Da-li é que, ao contrário do estereótipo de mulher histérica e emotiva demais, ela é bastante racional quando o assunto é sua vida pessoal e salvar o museu que herda de seu pai. Sem perder a compostura, Da-li toma decisões inteligentes e assume riscos por conta própria. Além disso, ela ocupa o cargo de direção no museu, um cargo muito alto, e se mostra absolutamente competente e sagaz ao lidar com um museu beirando a falência e tanta gente de olho em seu acervo. Uma mulher brilhante.

Eun-soo – Soundtrack #1

Por fim, temos Eun-soo, protagonista do mini-dorama Soundtrack #1. Assim como Moon-young e Da-li, Eun-soo não tem vocação para ser uma dona de casa exemplar. Seu apartamento sempre está uma grande zona e ela não dedica longas horas de seu dia limpando-o ou organizando-o. Quando o assunto é cozinha, Eun-soon também não é lá muito habilidosa. Aqui, mais uma vez é o homem que assume esses papeis sem nenhum tipo de constrangimento: seu amigo e, posteriormente, namorado Seon-woo é que sempre limpa a casa dela quando está lá e é ele quem se mostra um ótimo cozinheiro, sempre preparando pratos deliciosos.

Hit the spot e o que as mulheres querem

Para quem está procurando séries calientes, com cenas nas quais sexo é objeto excessivo de conversa e de cenas, já sabe: doramas não costumam ser esse lugar. Inclusive, é por estarem cansadas de tantas séries estadunidenses que banalizam o sexo, criando inúmeras cenas sexuais sem contexto e, francamente, muitas vezes sem necessidade, que muitas pessoas se converteram aos doramas, em busca de histórias que não utilizassem o sexo como muleta ou meramente como filler quando a história e os personagens não têm mais nada a apresentar.

Então desde os primeiros doramas que assisti eu já sabia que a proposta era outra. E embora a dramaland já tenha, no geral, avançado bastante, abandonando, aos poucos, o velho clichê dos beijos de olho aberto, todas sabemos que cenas com sexo geralmente ficam subentendidas e não é mostrado o ato em si.

Então quando Hit the Spot, uma websérie de 8 episódios, foi lançada em 2022, ela veio para abalar as estruturas da dramaland. Em um país extremamente conservados quando o assunto é sexo, ainda mais quando se trata de sexo no qual mulheres são priorizadas, Hit the Spot não passou despercebida ao trazer para a tela duas amigas que falam abertamente sobre sexo e estão em uma jornada de busca pelo prazer, pelo afeto e, o mais importante, por si mesmas.

Para contextualizar: Hee Jae e Mi-na são duas grandes amigas que trabalham em uma editora de livros para adultos e, meio por acaso, acabam tendo que apresentar um podcast chamado Hit the Spot, no qual recebem histórias de ouvintes e suas questões sexuais, às quais elas tentam responder. A dinâmica da dupla é interessante, já que, no começo do dorama, Hee Jae é uma mulher que está em um longo namoro e, inclusive, já mora com seu namorado, não tendo muitas experiências diversificadas quando o assunto é sexo. Mi-na, por sua vez, é uma mulher que só transa casualmente, bem no estilo no strings attached, é bastante experiente no assunto sexo, e sabe exatamente o que lhe dá prazer e do que ela gosta.

Embora eu já tenha assistido a essa série há uns bons meses, foi só ao agora, que estou lendo “Amar para sobreviver”, de Deel L. R. Graham, que me deu um clique para escrever sobre Hit the spot. No livro, entre muitas outras coisas que não cabem aqui, a autora mostra como o sexo foi concebido por uma visão masculina, visando ao prazer único do homem e à submissão da mulher. E embora isso seja uma questão estrutural intrínseca ao patriarcado, Hit the spot mostra uma luz no fim do túnel ao colocar em tela duas amigas em uma jornada pessoal de autoconhecimento, apresentando o que mulheres esperam do sexo. Então esse post é para falar o quanto essa série é boa em centrar um tema tabu pelo olhar de duas mulheres maduras, que tratam sexo como parte importante de suas vidas, e que têm seus próprios desejos e seus próprios limites.

Em busca do prazer feminino

Como já dito, Hit the spot é muito focada em mulheres buscando prazer em uma atividade que, por séculos, foi concebida para trazer prazer única e exclusivamente aos homens. E esse ponto é bastante evidente por meio da jornada de Hee Jae,

Hee Jae estava em um namoro bastante longo e já morava com seu namorado. Porém, ela se dá conta de que nunca sentiu, de fato, prazer ao transar com ele, nunca tendo tido um orgasmo, por exemplo. Recebendo as sábias orientações de sua amiga Mi-na, Hee Jae toma a iniciativa para resolver seu problema e vai a uma loja de artigos sexuais. É lá que ela descobre uma variedade enorme de possibilidades, em um lugar seguro e 100% frequentado apenas por mulheres. Hee Jae decide começar aos poucos e abre o jogo com seu então namorado, Hyeon Woo, dizendo que ela não estava satisfeita com a vida sexual deles.

Hyeon Woo, ao ouvir o desabafo da namorada, faz a coisa errada: se exime de qualquer responsabilidade, dizendo que se ela nunca tinha tido um orgasmo, o problema estava nela. TÁQUEOPARIU, hein? O bonito se achava o rei do Kama Sutra e ouvir de sua namorada de anos que ela simplesmente nunca teve prazer nas incontáveis vezes em que eles transaram foi uma ferida no seu grande ego de macho alfa. Então ao invés de ele ter alguma empatia com sua namorada, ele acha por bem culpá-la por algo que ELE não estava fazendo direito, simples assim. Ao ouvir um desaforo desse, Hee Jae simplesmente se cansa e decide que a história deles não fazia mais sentido e decide terminar seu longo namoro. Palmas para ela.

(Um parênteses sobre a questão dos brinquedos sexuais: é interessante como a série aborda a possibilidade de sentir prazer sozinha, sem a necessidade de outra pessoa. Mi-na é tão expert nessa área que tem uma verdadeira coleção de brinquedos sexuais de todos os tipos e tamanhos, e muitas de suas noites ela passa tomando um bom vinho tendo por companhia um de seus brinquedos, que lhes garantem uma noite agradável e prazerosa. Hee Jae também descobre o mundo dos brinquedos sexuais e também aprende a conhecer o próprio corpo e do que gosta).

Se com Hyeon Woo Hee Jae não teve a chance de explorar sua própria sexualidade, ela consegue ir além com seus brinquedos e com In Chan. Sendo um autor de livros sobre sexualidade, In Chan é uma ótima possibilidade para que Hee Jae continue descobrindo e experimentando o que gosta, inicialmente, de forma casual. De início, Hee Jae não vê In Chan como um parceiro sexual, já que ela tinha acabado um longo relacionamento e só queria um colega com quem conversar. Porém, depois de ele deixar claro que queria algo mais com ela, Hee Jae também deixa claro que não queria nada sério naquele momento e, pela primeira vez, se sente à vontade para falar abertamente sobre seus desejos e fetiches, incluindo transar dentro de um carro na beira do mar.

A sorte é que ela encontra em In Chan um homem que estava genuinamente interessado nela e que via o sexo como algo que tinha que ser prazeroso e bom para todas as partes envolvidas. Mas ela só encontra um cara assim quando ELA também estava mais aberta a novas experiências e estava, de fato, dedicando tempo e energia em explorar e experimentar as coisas que ELA queria. Assim, ela não fica sendo uma mulher submissa que será “ensinada” por um cara especialista no assunto, mas sim dividir momentos de intimidade nos quais ela também tem poder de escolha e liberdade para expressar e realizar seus desejos.

Sexo casual não é sexo sem responsabilidade nem limites

Esse ponto do sexo casual é mais explorado na série por meio da personagem Mi-na. Aliás, ela é uma grande exceção no mar de doramas, já que, além dela, a única personagem da qual me lembro que fazia sexo casualmente era Soo-ji, de Because this is my first life. Bom, voltando à Mi-na, vemos que ela sai com vários homens, bem no estilo “pegar sem se apegar”, até ela conhecer Woo Jae. As circunstâncias que unem os dois são meio inusitadas e é sem querer que ela manda para ele uma lista que ela tem prontíssima com todas as suas demandas sexuais e que ela já tinha usado com outros homens. Mi-na sabe tanto o que quer e do que gosta que já anda com uma lista. You go, girl.

Woo Jae, também adepto ao sexo casual, possui uma lista, mas de testes próprios relacionados às IST. E a série trata isso com muita naturalidade, mostrando que, para Woo Jae, é inegociável transar com alguém sem antes ter certeza de que a pessoa está livre de IST. Tanto que, quando está num encontro com uma mulher que não tem esses exames em mãos e não demonstra querer fazê-los, ele vai embora sem olhar para trás.

Quando Mi-na e Woo Jae se encontram já com segundas intenções, eles são MUITO claros sobre o que esperam do outro. Mi-na disse que sexo oral para ela é inegociável, enquanto ele devolve dizendo que, para ele, é essencial sexo anal. E aqui vemos que, apesar de sua vasta experiência, Mi-na ainda não tinha feito sexo anal. Ela diz estar aberta a essa experiência, mas que, antes precisava fazer exames e ter certeza de que estava tudo bem. Como qualquer pessoa razoável deveria fazer.

O caso de Mi-na e Woo Jae mostra perfeitamente como sexo casual não é bagunça. Os dois sabem o que querem e do que gostam e, o que é importantíssimo, são responsáveis com questões de saúde e não vão se arriscar a serem contaminados com uma IST. Eles falam disso abertamente e de forma muito natural, sem tratar a saúde e a vida de ambos como uma questão tabu.

Outro ponto ESSENCIAL, seja no sexo casual, seja no sexo com parceiro fixo, é a questão do consentimento, que aparece de forma bem explícita na série no caso de ambas as amigas. Hee Jae, por exemplo, na noite em que quase dorme com In Chan, embora ela comece muito animada, a verdade é que ela tinha bebido demais e dormiu antes de começar qualquer coisa. In Chan, como seria de se esperar de qualquer pessoa decente, imediatamente para os avanços quando percebe que Hee Jae está dormindo e, portanto, incapaz de tomar qualquer decisão sobre seu próprio corpo. In Chan não merece nenhum parabéns pelo que fez, mas a série ter feito questão de colocar uma cena assim diz muito que sexo só pode ocorrer quando há consentimento de ambas as partes. Caso contrário, é crime mesmo.

Female gaze: a diferença de se ter uma mulher por trás das câmeras

Por fim, chegamos a um ponto essencial de Hit the spot: a série é dirigida por Yoon Ra Young, uma mulher. E isso faz TODA a diferença e eu diria, inclusive, que isso foi determinante para a série ser boa e, de fato, centrada em mulheres. De nada adiantaria uma série supostamente feminista e com duas protagonistas mulheres falando sobre sexo se quem tivesse dirigindo fosse um homem querendo ver em tela seus próprios fetiches.

Antes de entender por que é essencial ter uma mulher dirigindo uma série como essa, é preciso lembrar que a indústria audiovisual ainda é dominada por homens diretores, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Isso significa que muitas séries e filmes com cenas sensuais privilegiam o olhar masculino e colocam a mulher como objeto de apreciação. Ter apenas homens dirigindo cenas assim significa, na maior parte das vezes, que as mulheres são filmadas em posições submissas, que é dado muito foco em suas partes íntimas e que o homem é o grande comedor da história. A esse fenômeno de se ter homens no comando de séries ou cenas nas quais o machismo grita na tela damos o nome de male gaze.

Porém, quando temos uma mulher dirigindo esse tipo de cena, as coisas tendem a ser muito mais favoráveis para o público feminino, e é exatamente isso o que acontece em Hit the spot. Mesmo nas cenas mais íntimas, mostrando partes do corpo que geralmente ficam cobertas, em nenhum momento vemos um close enorme na bunda ou nos peitos das protagonistas. A série explora cenas em que elas transam em várias posições, muito além da “posição missionário”. O que a série mostra são cenas bastante sensuais, mas que respeitam os corpos das mulheres, inclusive das ouvintes dos podcasts que mandam suas histórias. Interessante ver como as cenas priorizam a perspectiva das mulheres, mostrando elas ditando o ritmo e tendo prazer. E isso, mais uma vez, só é possível porque temos alguém do mesmo sexo por trás das câmeras. Nunca subestimem o poder do female gaze de fazer uma série tão “adulta” ainda soar respeitosa para com os corpos femininos.

Yumi: é impossível ser feliz sozinha?

Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

Wave – Tom Jobim

Yumi’s cells é daqueles doramas que se tornou um dos meus favoritos. Gostei muito da primeira e da segunda temporadas e fiquei muito positivamente surpresa de como os criadores mesclam tão bem a história dos personagens que vemos em tela com a animação das células (muito bem feita, aliás). Eu nunca li o webtoon que inspira o dorama, mas gostei bastante do que assisti. Além desse ótimo jogo entre “vida real” e animação, gosto que a série consegue tocar em vários temas importantes, o que me inspirou a escrever um post assim que terminei a primeira temporada.

Tudo muito legal, mas… sempre houve uma coisa que me incomoda em Yumi desde a primeira temporada: sua suposta incapacidade de ser feliz sem estar em um relacionamento amoroso. Embora o dorama explore bem outros lados da vida de Yumi (principalmente na segunda temporada), eu me vi incomodada com um foco excessivo nos namorados de Yumi e, mais do que isso, em como principalmente na primeira temporada vermos bem pouco da vida de Yumi para além de seu relacionamento com Wung.

Sim, o dorama é baseado em uma webtoon que também foca nos namorados de Yumi. Sim, o foco de doramas, no geral, são relacionamentos românticos heterossexuais. E sim, eu gosto muito de Yumi’s cells e de doramas (não à toa gasto muitas horas assistindo a esse tipo de série e alimentando esse blog). Mas nada disso me impede de ter uma visão crítica das coisas que consumo 😉

Então esse post é uma proposta de reflexão sobre como nós, enquanto mulheres, aprendemos a dar muito peso a relacionamentos amorosos e como isso aparece em Yumi’s cells. De acordo com MEU ponto de vista, MINHA postura diante da vida e MINHAS opiniões, obviamente.

Se você deposita muito tempo e atenção nos seus relacionamentos amorosos, o que aconteceu com as outras esferas da sua vida?” (Jéssica Petit)

Eu queria começar esse post falando um pouco sobre como eu vejo relacionamentos amorosos e o lugar que eles ocupam na minha vida enquanto uma mulher independente e feminista. Escolhi essa frase de uma filósofa que gosto justamente porque é exatamente isso que eu penso quando vejo tantas mulheres dedicando tanto tempo e energia em relacionamentos amorosos, muitos deles com sinais bem óbvios de que estão fadados ao fracasso.

A primeira coisa é que, enquanto mulheres, nosso processo de socialização é diferente do processo dos homens e ter lido “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir, é extremamente esclarecedor nesse sentido. Enquanto homens foram, durante séculos, criados para serem donos do mundo (como dizia James Brown, “It’s a man’s man’s man’s world“), criarem coisas, trabalharem e definirem regras, nós, mulheres, fomos e ainda somos socializadas para almejar o casamento e a construção de uma família como o ápice da nossa vida. Então, ao invés de se casar e ter filhos ser um desejo mútuo compartilhado, a história nos mostra que apenas as mulheres é que foram criadas para ter esse tipo de desejo, enquanto os homens se ocupam de construir o mundo. Isso é uma longa discussão, mas é um fato, desculpem. Basta ver os filmes da Disney de quem nasceu nos anos 90 ou antes, todos com princesas que, no final das contas, se casavam e isso era o “felizes para sempre”. Basta ver, também, o tanto de piadinha de homem casando e falando de “game over”. Eu não nego que de uns tempos para cá tem havido mudanças nesses papeis sexuais, muito graças à entrada da mulher no mercado de trabalho – o que tem algum potencial de fornecer independência financeira – e à invenção de anticoncepcionais. Mas o caminho ainda é longo e nós ainda estamos rodeadas por ideias bastante limitadas do que é ser mulher e do que é necessário para ser feliz.

Pois bem, muito antes de ler Simone de Beauvoir, eu sempre almejei independência e desde muito cedo aprendi a ser minha prioridade número 1. E isso não mudou depois que entrei em um relacionamento estável e saudável. Nesses 12 anos de relacionamento, eu continuo fazendo coisas sozinha (inclusive viajando), cultivando hobbies e hábitos próprios, tendo meus próprios planos pessoais e profissionais, e enxergando meu companheiro como uma pessoa que acrescenta a minha vida que já era bem completa antes dele chegar. Meu tempo e minha energia estão divididos em muitas áreas para além de um relacionamento, incluindo meu trabalho, meus hobbies, meus estudos, meus amigos, meus planos e muito mais. Embora eu esteja muito feliz no meu relacionamento e ame meu companheiro, eu não acho que relacionamentos amorosos são o elemento principal para sermos felizes. E é por acreditar nessa crença que ainda vemos muitas mulheres presas em relacionamentos fracassados, com a síndrome da salvadora do “homem que ainda é um menino”, sem desenvolverem outras áreas de suas vidas e, o mais importante: sem aprenderem a serem uma excelente companhia para elas mesmas.

Então, para mim, ver tanto na vida real quanto num dorama uma mulher que não coloca tanto tempo e energia em outras áreas da vida, dedicando-se demasiadamente a seus namorados. me soa muito estranho porque parece que a pessoa está incompleta. E é essa a impressão que tive em alguns momentos de Yumi’s cells.

Wung: a felicidade não deveria depender dos outros

Como adiantei lá em cima, eu acho a primeira temporada mais “problemática” do que a segunda em termos de foco excessivo da parte de Yumi em seu namoro com Wung. Mas antes de analisar esse relacionamento, precisamos dar uns passos atrás e lembrar de como Yumi estava solteira há três anos e, aparentemente, esse era um grande problema. Ela passava as madrugadas lamentando sua solidão e nem mesmo o hábito de ler livros parecia ser capaz de lhe trazer alguma felicidade. Ela já tinha um cargo legal na empresa onde trabalhava e pagava suas próprias contas, o que é ótimo, pois indicava uma independência financeira. Mas, fora o trabalho, não vemos Yumi cultivar outras partes de sua vida: ela não era mostrada tendo hobbies ou praticando esportes, por exemplo. E não a víamos interagindo com outras amigas (muito pouco, na verdade, e quando aparece com mais mulheres é para ver quem já casou e quem ainda é “solteirona”), nem fazendo nada sozinha, como indo ao cinema, ao museu, viajar, fazer cursos etc. Então ou Yumi estava trabalhando, ou ela estava lamentando o fato de ser solteira. Que triste desperdiçar a vida sem experimentar as tantas coisas que uma mulher com algum dinheiro poderia fazer.

Então Yumi está disposta a fazer qualquer coisa para ter um namorado, inclusive disputar um homem com uma colega de trabalho (nossa, que original). Eu adorei que no final das contas o homem era gay, mas Yumi continua na sua busca pela felicidade, ou seja, achar um homem para chamar de seu.

Daí chega nosso engraçado Wung, que aos poucos conquistou as células de Yumi e a nós também. Nos primeiros meses de relacionamento entre Yumi e Wung, eu também gostei de Wung: ele era um cara legal e divertido, estava batalhando para fazer seu jogo dar certo e gostava de Yumi. O que eu não gostava era de ver Yumi colocando muito mais energia nesse namoro do que o próprio Wung. No seu ranking pessoal, ela colocava Wung em primeiro lugar, ao invés de colocar a si mesma; ela começa a praticar o hábito de correr não porque ela genuinamente gostava, mas sim para não ser uma namorada grudenta. Enquanto isso, Wung se tratava como prioridade e se dedicava muito em seus projetos pessoais.

Muita coisa acontece nessa história e a falta de comunicação de Wung acaba levando Yumi a decidir terminar seu namoro. E mesmo nesse momento, ela hesita e cogita voltar atrás, mesmo Wung tendo dado todos os sinais possíveis e imagináveis de que o namoro deles não estava indo a lugar nenhum. No final das contas, quem decide e verbaliza o término é o próprio Wung. Como era de se esperar, Yumi liga para ele horas depois querendo voltar (não julgo essa reação dela, faz parte de terminar um namoro), mas Wung não atende a ligação e entramos, junto com Yumi, em uma jornada de dor e superação, um processo normal em qualquer fim de relacionamento.

Porém, na segunda temporada, logo nos primeiros episódios há um encontro entre Yumi e Wung que se dá totalmente por acaso. Nesse encontro inusitado, Yumi tem um vislumbre da então situação de Wung e sente pena dele, pois o sonho de fazer seu jogo decolar não estava indo para a frente. E tá tudo bem ela ter empatia pelo Wung, afinal, eles não são inimigos. Mas, para mim, o problema está na conclusão à qual Yumi chega: depois de muito refletir, ela chega à brilhante conclusão de que o problema foi que ELA o abandonou no momento em que ele mais precisava dela.

ORA, FAÇA-ME O FAVOR.

Pode ser que a dramaland tenha suas fãs emocionadas, mas esse definitivamente não é o meu caso. Eu me lembro muito bem de como Wung escondia fatos e dava explicações pela metade em assuntos bem importantes, desde sua amizade com uma mulher que tinha interesse amoroso nele até a sua falência e venda de seu apartamento. Eu me lembro muito bem de que ele não foi capaz de responder a um pedido de casamento (ele pode ter congelado na hora, mas ele TINHA que ter se pronunciado sobre esse assunto em algum momento enquanto eles ainda estavam namorando, e não só na hora de terminar). Eu me lembro muito bem do Wung ir embora às pressas da casa de sua namorada após ter morado com ela durante meses, sem dar nenhuma explicação e sem uma conversa séria. A verdade é que Wung não tinha a maturidade de um homem adulto e não se comunicou com uma namorada incrível como Yumi. Yumi não abandonou ninguém; foi ele quem, após pisar na bola muitas e muitas vezes decidiu terminar com ela. Wung não pediu ajuda e não deu abertura para ser ajudado. Não me conformo de Yumi ainda ter se sentido culpada nessa história toda. E eu nem vou citar of ato de Wung querer se “vingar” de Yumi mostrando-se como um homem rico e bem-sucedido, pouco interessado na vida dela e no sucesso dela. Que preguiça.

Então, resumindo, o que vemos na primeira temporada é uma Yumi que cultiva muito pouco outras áreas de sua vida, com um foco excessivo em Wung. Ela se sentia triste por não estar namorando e isso era motivo de disputa com suas “amigas” de faculdade. E, mesmo tendo passado por poucas e boas com Wung, Yumi ainda não queria terminar com ele no momento decisivo e, posteriormente, fica com a sensação de tê-lo abandonado.

Ba-bi: algum progresso?

Comparando com a primeira temporada, eu acho que a segunda temporada de Yumi’s cells avança bastante em mostrar outros lados de Yumi. Uma coisa muito positiva é vê-la se dedicando à carreira de escritora, algo que ela fez de forma genuína e porque era a sua paixão, e não porque não queria ser uma “namorada grudenta”. Vemos que ela adotou o hábito de se exercitar mesmo após o término de Wung, o que também é ótimo. E, GRAÇAS ÀS DEUSAS, vemos Yumi interagindo mais com suas amigas, inclusive com Ruby, com quem havia disputado a atenção de um homem na primeira temporada.

Embora eu ache que seu namoro com Ba-bi tenha começado de maneira precipitada, pois Yumi poderia muito bem ter ficado mais tempo sozinha, eu acho louvável ver como o ranking dela mudou de forma definitiva. Se na primeira temporada Wung ocupava o primeiro lugar em sua vida, na segunda temporada vemos que ela é quem ocupa esse lugar, mesmo namorando Ba-bi. E isso vem do fato de, ainda na primeira temporada, haver um momento em que Yumi “entra” no mundo das células e recebe o conselho implícito de que ela é quem deveria ser a prioridade de sua vida. Um senhor avanço, eu diria.

Com Ba-bi, vemos um problema muito parecido com o que ocorreu com Wung. Sim, ela voltou: a falta de comunicação. Namorando a distância, Ba-bi não é sincero com Yumi sobre se mudar repentinamente de casa porque ficou balançado pela estagiária fofinha que gostava dele. Vejam bem: eu não acho um problema ele ter se sentido balançado, mas se mudar de casa para não cruzar mais com a estagiária e não ser honesto com Yumi sobre isso é sim um problema. Yumi acha inaceitável essa mentira e, com muita coragem e maturidade, decide terminar seu namoro com Ba-bi na véspera de Natal. A partir daí, vemos Yumi promovendo a célula escritora como célula principal e se dedicando 100% a essa jornada.

E como eu gostei de ver uma Yumi tão apaixonadamente dedicada à outra área de sua vida. Mas me incomoda ver que ela para de se arrumar, por exemplo, reflexo da desordem que estava ocorrendo em suas células. Mais uma vez, a impressão é de que Yumi faz algumas coisas apenas quando está namorando, e se importar com a aparência é uma delas. Ou seja: quando está namorando, Yumi fica bonita; quando não está namorando, ela vira uma “terrorista fashion”.

Bom, eventualmente Yumi e Ba-bi voltam a namorar, mas tudo indica uma certa estranheza nesse reatamento e Yumi não demonstra estar super entusiasmada, o que é completamente compreensível. Em um momento fragilizado do relacionamento, mais uma vez aparece nossa velha conhecida falta de comunicação e Ba-bi conta uma grande mentira para Yumi. Quando ela descobre, o que acontece? Isso mesmo, ela é pedida em casamento e aceita. Eu entendo que os dois estavam muito à flor da pele e que tinham muitos sentimentos um pelo outro, e até entendo Yumi ter aceitado esse pedido no calor do momento, então vou pegar leve aqui.

Mais para o final da temporada, Yumi decide terminar de vez com Ba-bi após se dar conta que não tinha mais amor por ele e eu achei essa decisão bastante madura. Mesmo querendo se casar, Yumi é sincera consigo mesma e não vai fazer algo sério assim sem estar 100% certa sobre o que sente pelo seu então noivo. E gostei de ver Yumi sendo reconhecida pelo seu trabalho como escritora, ganhando dinheiro e dando passos importantes, como a compra de seu apartamento.

Mas… nem tudo são flores e, na cena final, já vemos mais um potencial parceiro romântico de Yumi. Sinceramente, que bom que não vai ter terceira temporada e eu vou ficar com a lembrança de ter me divertido com Yumi’s cells, apesar de seus pesares.

E vamos aprender e seguir o sábio conselho que a mãe de Ji-ho, de Because this is my first life, dá para Se-hee no dia de seu casamento: que sua felicidade não dependa de outra pessoa. Contrariando Tom Jobim, eu diria que é perfeitamente ser feliz sozinha no sentido de não se estar atrelada a relacionamentos amorosos, cultivando as tantas possibilidades que a vida proporciona àquelas que sabem onde investir sua energia 🙂

Call it Love é, antes de tudo, sobre pessoas boas

Call it Love, a estreia e aposta da Disney no mundo dos doramas, tem sido considerada por muitos uma grata surpresa e um dos melhores doramas de 2023. Sendo um dorama realizado por uma gigante plataforma internacional, os receios das dorameiras de que a série poderia se “internacionalizar” demais e perder a essência do que tanto amamos nas produções coreanas não era completamente infundado, já que sabemos como Netflix e cia costumam tratar relações amorosas. Mas, nesse sentido, é muito bom estar enganada, já que Call it Love segue muito bem a receita dos doramas, mas com um toque próprio.

Eu gostei bastante da série, embora não ache que, quando o assunto é melodrama, ela esteja no mesmo patamar de My Mister ou Lost. E é fato que o grande peso do sucesso da série recai nos personagens principais, Woo-joo e Dong-jin, e na excelente atuação dos atores, além de termos personagens secundários bem construídos, uma bela fotografia e direção, e uma trilha sonora simplesmente linda.

Woo-joo e Dong-jin, as estrelas do dorama, se mostram como personagens bem construídos, com muitas camadas mas, acima de tudo, eu acho que eles são pessoas boas, apesar de vestirem uma capa de tristeza, egoísmo e raiva. E é sobre isso que eu quero falar nesse post: o que vemos externamente de Woo-joo e Dong-jin esconde uma bondade genuína e uma preocupação com o bem-estar dos outros.

Considerando a sinopse e os primeiros episódios, qualquer um diria que Woo-joo é uma pessoa deprimida, mal humorada e raivosa, em uma jornada sedenta por vingança. Aos poucos sabemos que o pai de Woo-joo abandonou ela e sua família quando ela ainda era adolescente, o que significou, entre outras coisas, Woo-joo se tornar praticamente a responsável pela família, embora fosse a irmã do meio. Tal responsabilidade pesava sobre seus ombros, já que ela teve que assumir esse papel no meio de muita dor, e também teve que abrir mão do sonho de ser uma arqueira profissional.

Quando, já adulta, Woo-joo descobre que seu pai morreu, mais do que a raiva que já sentia por anos, a vingança também começa a criar espaço dentro de si. Ela decide ir ao enterro para causar, com roupas chamativas e fazendo um escândalo, um grande desrespeito nesse ritual de despedida. Ao saber que teria que sair da casa por onde morou 20 anos já que, supostamente, seu pai tinha deixado a casa para a sua amante, Hee-ja, Woo-joo decide empregar todo o seu tempo e energia para se vingar dessa mulher. A maneira que ela escolhe para fazer isso é entrar na empresa de Dong-jin, filho da amante de seu pai, e destrui-lo, para atingir Hee-ja.

Embora seja movida a sentimentos como raiva e vingança, o que se reflete em seu semblante e sua cara de poucos amigos, a verdade é que Woo-joo vai se revelando uma pessoa boa e justa. Ela se preocupa sobretudo com o bem-estar de seus irmãos e está disposta a fazer qualquer coisa para que eles fiquem bem. Sua cobrança para que Ji-gu, seu irmão caçula, estude e passe em um concurso é uma preocupação genuína de quem sabe o peso de não ter um trabalho estável e bem-remunerado, e ainda ser praticamente responsável pela família. Eventualmente, Ji-gu decide que essa vida de concurseiro não é para ele e que ele quer viver de música. Em um primeiro momento, Woo-joo fica indignada com essa situação, mas, com o tempo, acaba entendendo o lado do irmão e também sabe que ele tem vontade própria e não vai fazer o que ela quer. Quando sua irmã Hye-seong é humilha no banco onde trabalhava pela esposa do cara com quem estava saindo (ela não sabia que ele era casado), lá estava Woo-joo para acalmar a mulher e defender sua irmã, dando um fim às agressões.

Para além de seu núcleo familiar, Woo-joo, uma pessoa tão ensimesmada e fechada, constrói uma linda amizade com Yoon-jun. Embora seja uma amizade permeada de silêncios e meia-palavras, Woo-joo confia em Yoon-jun para falar de coisas muito pessoais, como seu plano de vingança e seus sentimentos por Dong-jin. E mesmo quando se trata de pessoas com quem ela não têm muita afinidade, como é o caso de Min-yeong, ex-namorada de Dong-jin, Woo-joo se mostra uma pessoa justa e razoável. Ela pede que Min-yeong se mude devido ao grande mal-estar que isso tem causado em Dong-jin e faz uma aposta de dardos com ela, sem deixar de ser muito transparente e honesta, dizendo que ela era arqueira profissional e que, para não ganhar vantagem na aposta, iria jogar os dardos com a mão que tinha menos habilidade. Parece um gesto simples, mas isso revela muito da personalidade de Woo-joo que, acima de tudo, preza por ser uma pessoa honesta, o que acaba não condizendo com seu plano de vingança e transforma tudo em um grande dilema quando ela se envolve com Dong-jin.

Mas é com Dong-jin que vemos, de fato, como Woo-joo é uma pessoa que se preocupa e quer o bem de outra pessoa. No começo, Dong-jin era o alvo de sua vingança e ela estava disposta inclusive a ajudar sua empresa a falir, tudo para atingir Hee-ja. Porém, com o tempo, Woo-joo fica surpresa e assustada ao notar que se importa com Dong-jin e com sua solidão, sentindo algo muito forte por aquele homem que sempre parecia andar cabisbaixo. Ela se importa com Dong-jin antes mesmo de saber que o amava, fazendo gestos simples, como costurar um botão de sua blusa. Quando se dá conta de seus sentimentos, Woo-joo é muito franca com Dong-jin e diz que gosta dele sem rodeios (aliás, gosta tanto que queria que o mundo desaparecesse e só ficasse eles dois, de acordo com suas próprias palavras). Woo-joo é fiel a seus sentimentos e, mesmo ciente da relação complicada envolvendo suas famílias, ela quer viver aquilo com Dong-jin. Ela escolhe não contar a verdade para Dong-jin quando sua família descobre o rolo todo porque queria protegê-lo e é com muita dor e tristeza que ela termina o relacionamento por conta de sua família.

Por fim, mesmo que Woo-joo (muito compreensivelmente) não seja capaz de perdoar Hee-ja, no fim de tanto drama e reviravolta, ela decide não levar a história para a justiça e fazer um acordo amigável. Além de fazer isso pelo próprio Dong-jin, o homem que amava e que tinha lhe pedido isso, Woo-joo, no final, faz essa escolha por ela mesma. Ela descobre que não era essa jornada de vingança que a deixaria em paz consigo mesma.

Dong- jin também é um personagem que, por trás de uma camada de tristeza e solidão, demonstra ser uma pessoa boa. Inicialmente, ele se mostra uma pessoa egoísta – ele abre sua empresa prejudicando o local onde já trabalhava e quando Woo-joo conta para ele que tinha perdido a casa por onde morara por 20 anos, sua reação é dizer que cada um deve lidar com seus próprios problemas. Além disso, quando recebe ajuda da mãe para salvar sua empresa, ela não quer saber de onde veio esse recurso e simplesmente não se importa se essa origem é lícita ou não. Mas em Call it Love, os personagens são multifacetados e crescem na trama, o que não é diferente com Dong-jin.

Ao longo dos episódios, vemos Dong-jin crescer de uma pessoa egoísta e fechada para alguém que se importa e que quer fazer a coisa certa. E isso não se refere apenas a seus sentimentos em relação a Woo-joo. Por exemplo, quando sua ex-namorada volta do nada e, embora Dong-jin obviamente esteja ainda muito magoado por ter sido deixado e traído por ela, ele não pede para que ela se mude e mostra se preocupar com ela, dizendo que ela precisa parar de beber. Em relação à sua mãe, sabemos que ela é uma mulher muito complicada, que negligenciou seu filho, sempre em busca do próximo marido que lhe forneceria melhores condições financeiras. E mesmo quando Dong-jin sabe até que ponto foi a ambição da mãe, que não hesitou em mentir e expulsar uma família da casa que era deles por direito, Dong-jin ainda acolhe sua mãe em seu apartamento e se esforça para convencê-la a fazer um acordo, pois ele não quer vê-la na prisão.

Mas é com Woo-joo que vemos todo o senso de justiça, a bondade e o amor de Dong-jin aflorar e vir à tona. Quando Woo-joo leva uma pedrada defendendo Min-yeong de um possível ataque, vemos pela primeira vez um Dong-jin completamente descontrolado, louco da vida por alguém ter machucado alguém de quem ele realmente gostava. Quando começam a entabular uma relação, vemos Dong-jin, sempre tão ensimesmado em si mesmo, demonstrando ansiedade e expectativa para ficar com Woo-joo.

Era de se pensar que, após descobrir que o plano inicial de Woo-joo ao entrar na empresa e se aproximar dele era para prejudicá-lo, Dong-jin poderia se sentir enganado e não querer mais saber de Woo-joo. Mas, pelo contrário: ele se mostra preocupado com ela e em nenhum momento demonstra ter ficado bravo ou magoado. Ele entende os motivos dela, entende por que ela queria se vingar da mãe dele através dele, mas também entende que ela desenvolveu sentimentos sinceros por ele no meio do caminho e que desistiu de seu plano. Na cena em que terminam (de partir o coração, aliás), Dong-jin não queria terminar com Woo-joo e diz estar muito triste com essa separação. Quando se reencontram para “terminar de vez”, Dong-jin agradece Woo-joo por tê-lo amado. E isso era mais que o suficiente para encher uma vida tão solitária quanto a dele com uma luz de amor e de carinho (do jeito Woo-joo de ser, claro).

Mesmo não estando mais juntos, Dong-jin começa uma saga pessoal para devolver a casa à Woo-joo e sua família. Não só porque isso envolve a mulher de quem gostava, mas porque isso era o certo a se fazer e ele sabia disso. Aquele homem que nos primeiros episódios disse que cada um tem que se virar com seus problemas, aos poucos é tomado pelo sentimento do amor e pela bondade, e consegue ajudar Woo-joo a fechar esse ciclo e virar a página.

A última cena do dorama nos mostra duas pessoas apaixonadas que finalmente se permitem sorrir. Mais leves, mais livres e, assim esperamos, mais prontas para finalmente viverem tudo o que sentem um pelo outro.